domingo, 27 de julho de 2008

"CIÊNCIA EM AÇÃO-

como seguir

cientistas


e engenheiros

sociedade afora"


livro de BRUNO LATOUR


“Ciência” é uma palavra em alta nas
sociedades ocidentais (ou em todo mundo
“globalizado”, o que dá na mesma). Uma
lavagem de tapete, um corte de
cabelo, um mapa astral ganham outro
estatuto quando se afirma que são
“científicos”. Dessa forma, determinar o
modo como a ciência é produzida,
transmitida e exportada é tarefa essencial
para a compreensão da sociedade
contemporânea.
Das diferentes formas de se aproximar da
ciência, a mais tradicional tem sido o estudo
da estrutura do suposto “método científico”.
Os resultados, seja no domínio da Filosofia,
seja no da História ou da Sociologia da
Ciência, parecem pouco convincentes. Sem
dúvida que a ciência é central para o
progresso, sem dúvida que ela evolui, mas
fica difícil atribuir seu sucesso a um método,
a um conjunto de regras que todos os
participantes do “jogo científico”, tácita ou
explicitamente, concordam em seguir.
Nos anos setenta pesquisadores tentam uma
nova tática: estudar a atividade dos cientistas
do mesmo modo que antropólogos estudam
comunidades isoladas e distantes. Latour é
um dos pioneiros nessa vertente, junto de
Steve Woolgar, Karin Knorr Cetina, Michael
Mulkay, entre outros. Mas praticamente só
Latour, por sua clareza, acessibilidade e
escolha de bons problemas para estudo,
ultrapassou o círculo restrito de especialistas
e alcançou reconhecimento mais amplo. Hoje,
é um autor do qual pode-se discordar, com
cujos escritos pode-se polemizar, mas é
impossível não ter posição a seu respeito. E
isso já é o suficiente para atestar sua
relevância.
A idéia de uma Antropologia da Ciência
parece, de saída, um tanto imprópria. Faz-se
antropologia de comunidades ditas
primitivas ou simples, ou de subgrupos ditos
mais ou menos homogêneos e simples
dentro de uma sociedade complexa. Mas e
fazer antropologia da comunidade científica,
do grupo por definição mais evoluído (não
importa aqui se isso é verdade ou não),
racional e complexo do planeta?
Os resultados com que Latour emergiu
desses estudos antropológicos têm pouco a
ver com a imagem que a própria comunidade
científica tem de si e divulga externamente.
Estudando os “nativos” (Latour foi
antropólogo residente em um laboratório de
Bioquímica, na Califórnia, nos anos setenta),
o autor mostra que a essência da atividade
científica é criar enunciados e subtrair-lhes
modalidades (a partir do enunciado “X acha
que a substância Y é responsável pelo efeito
cuja medida é Z”, criar o enunciado “Y causa
Z”) e transladar interesses, isto é, a
comunidade acadêmica deve sempre
aumentar as alianças entre seus membros e
entre estes, seus equipamentos e o “mundo
objetivo”; para isso, é preciso que todos
(todos mesmo) se transformem no processo.
Seu livro “Vida de Laboratório” examina tais
translações, mas é em “Ciência em Ação” que
as pesquisas antropológicas ganham a
dimensão de teoria geral acerca do
funcionamento da ciência moderna.
Se os estudos nessa vertente antropológica -
e a ambiciosa teoria daí derivada - vão ter
resultados mais convincentes no que diz
respeito ao estranho sucesso humano em
compreender o mundo, ainda é cedo para
saber.
Mas é evidente desde já que o enfoque é
original e ajuda a esclarecer o trânsito
conturbado das vias que ligam ciência e
sociedade.

Jesus de Paula Assis,
coordenador do
Núcleo de Edição do Instituto Itaú
Cultural, São Paulo-2000
http://www.interface.org.br/revista6/livro1.pdf

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