sábado, 23 de agosto de 2008

A QUESTÃO HABITACIONAL NAS CIDADES (clique aqui)

Natalia Viana


(...)Como me explicou a urbanista Raquel Rolnik, nunca houve falta de planejamento na formação das cidades brasileiras; houve, sim, muito planejamento. "Para os pobres, sempre foram destinadas as piores terras, as mais feias, longe das oportunidades culturais, educacionais e de emprego que a cidade oferece..." O resultado foi a expansão de conjuntos habitacionais de péssima qualidade, que acabaram virando cidades-dormitório. Até mesmo quando há escolas, creches e postos de saúde, esses serviços são de qualidade muito inferior aos do centro. Construídos sob medida para os subcidadãos. "Quem assistiu ao filme Cidade de Deus vai lembrar que Cidade de Deus foi um conjunto habitacional produzido pela Cohab do Rio de Janeiro. Aquelas casas foram feitas para os pobres morarem, e aquilo não é cidade", lembra Rolnik.

A nova política de habitação popular promovia ainda a remoção maciça das favelas, que até a década de 70 ocupavam terrenos nas áreas centrais. As cidades se expandiram horizontalmente a perder de vista, causando sérios problemas econômicos e ambientais. Além disso, a implantação de infra-estrutura em áreas longínquas é difícil e cara, enquanto toda a infra-estrutura do centro permanece subutilizada durante a noite e nos fins de semana. E mais: depois de construídos, muitos conjuntos foram abandonados à própria sorte. Foi o que aconteceu com o Cidade de Deus.

Outra faceta do BNH é a exclusão dos próprios excluídos. Durante seus 22 anos de existência, o BNH construiu 4 milhões de unidades, mas destinou apenas 18 por cento às famílias com renda inferior a cinco salários mínimos. Assim, a grande maioria dos trabalhadores continuou resolvendo o seu problema sozinha, produzindo cada vez mais soluções precárias e sem nenhuma relação com a cidade em que que vive. Uma outra cidade, à margem, excluída, paralela.
Vazios
Mas o avesso dessa política também dá as cartas no quadro habitacional do país. Da mesma maneira que vão surgindo submoradias aos borbotões, surge um outro fenômeno típico das cidades brasileiras: os vazios urbanos.

Não só terrenos baldios, como aquele ocupado pelo MTST em Osasco, mas apartamentos, casas e prédios inteiros vazios. Por mais tragicômico que isso pareça, a lógica é simples: há muito mais terras, casas e espaços comerciais destinados para a classe média do que classe média para ocupar. "Como se exclui totalmente os pobres da lógica do planejamento e da legislação urbanística, ocorre uma sobreoferta de pedaços urbanos no centro das cidades com infra-estrutura, qualidade habitacional e urbanística", diz Raquel Rolnik. De fato, há 4,6 milhões de domicílios vagos nas zonas urbanas brasileiras, o que representa 10 por cento do total. "Dois exemplos muito claros são Uberlândia e Goiânia, onde tem 40 por cento da terra vazia e subutilizada. E no centro de São Paulo são mais de duzentos edifícios residenciais inteiramente vazios."
O que está por trás dessa lógica desumana é uma política urbana que dialoga apenas com segmentos restritos da sociedade. Assim como na educação e na saúde, a própria cidade foi largada a cargo das leis de mercado. Só que a cidade, abarca a todos; há pouca chance de escapar da desordem. A classe média acaba se fechando em condomínios privados com muros altíssimos e guardas com cara de mau, e, como diria Rolnik, isso também não é cidade. (...)( clique no título e leia na íntegra)


Comentário : *Raquel Rolnik
,diz que uma urbanização mais humana e mais eficiente em vários âmbitos,depende da verticalização nos centros urbanos.

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