quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Karl Marx,Shakespeare ,o exílio,as paixões e o romantismo -

(...)A relação de Marx com o romantismo remonta à sua infância, quando através do barão Ludwig von Westphalen, descobriu, com grande emoção, a obra de Shakespeare. Elo entre ele e aquele que, em grande medida substituiria a figura paterna em sua vida[27], o culto ao pensamento shakespeareano, mais tarde, reforçaria também, o forte elo entre Marx e suas filhas.

Assim, durante seu exílio em Londres, quando costumava levar a família a piqueniques dominicais em Hampstead Heath, Marx desenvolveu o hábito de declamar cenas de Shakespeare, Dante e Goethe para Jenny e as meninas. Em 1856, escreveria a Engels, contando cheio de orgulho paterno que elas “liam constantemente” a obra do grande dramaturgo. Suas únicas incursões na cultura inglesa foram saídas ocasionais para assistir à montagens shakespeareanas e duas de suas três filhas sonharam tornar-se atrizes, sendo que uma conseguiu.

Como Marx fugia ao perfil de intelectual de sua época e buscava colocar em prática suas idéias, a concepção que tinha do amor, também estava inevitavelmente ligada à sua relação amorosa com Jenny. Assim, numa carta escrita à esposa treze anos depois do casamento, ainda é possível identificar a grande paixão que os unia:

”(...) Eis que assomas diante de mim, grande como a vida, e eu te ergo nos braços e te beijo dos pés à cabeça, e me prostro de joelhos diante de ti e exclamo: ‘Senhora, eu te amo’. E amo mesmo, com um amor maior do que jamais sentiu o Mouro de Veneza[28]. (...) Qual de meus muitos caluniadores e inimigos de língua viperina censurou-me, algum dia, por ser chamado a representar o principal papel romântico num teatro de segunda classe? E, no entanto, é verdade. Se os patifes tivessem alguma inteligência, teriam retratado ‘as relações produtivas e sociais’ de um lado e do outro, eu a teus pés. E embaixo escreveriam: ‘Olhem para esta imagem e para aquela (...)” [29]

Na carta pode-se ainda, perceber que também esta paixão de Marx era atravessada por Shakespeare, já que a última frase fora extraída de Hamlet. Por outro lado, a mesma também revela que a paixão de um homem por uma mulher podia, contraditoriamente, ser lida como indício de fraqueza perante outros homens, convertendo-se assim, num trunfo para os inimigos. Contudo, apesar de reconhecer que tal percepção acerca da paixão era corrente em sua época, a despeito do florescimento do romantismo, Marx não abriu mão de vive-la. Desta forma afirmou nos “Manuscritos de Paris”; “(...) O domínio da essência objetiva em mim, o irrompimento sensível de minha atividade essencial é a paixão (...)” [30]

Muito embora estivessem apaixonados, a vida de Marx e Jenny juntos foi marcada por muitas dificuldades; perseguições políticas que os obrigaram a mudar-se da França para a Bélgica, regressarem a Alemanha e terminarem seus dias na Inglaterra; problemas financeiros, oriundos da impossibilidade de Marx conseguir uma renda fixa, do medo que tinha da proletarização da família através do ingresso das mulheres – mãe e filhas – no mercado de trabalho e da extrema capacidade de endividamento que tinham. (...)

LEIA MAIS EM : http://www.achegas.net/numero/dezesseis/anna_marina_16.htm

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