terça-feira, 16 de dezembro de 2008

MICHEL FOUCAULT - A MULHER/OS RAPAZES,DA HISTÓRIA DA SEXUALIDADE - LIVRO



Foucault, Michel. A mulher / os rapazes: História da sexualidade (extraído da História da sexualidade v. 3); trad. de Maria Theresa da Costa Albuquerque. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997 - (coleção Leitura)

Foucault examina, nos dois textos extraídos do volume terceiro da sua obra "História da sexualidade", a formulação do saber sobre as relações de amor e de sexo, a compilação e a evolução do pensamento humanístico acerca dos relacionamentos heterossexuais e homossexuais, a partir da Grécia Antiga.

É de se observar que tais temas permaneceram encobertos durante a Idade Média e a Idade Moderna, pela força da moral cristã e de seus rígidos regramentos, e volta à tona com a dissipação dos valores da era pós-contemporânea, onde a família não se situa mais como forma de organização social imprescindível ao novo modelo econômico de produção.

No primeiro texto, Foucault investiga os benefícios e prejuízos do vínculo conjugal, à luz dos problemas relativos à virgindade, à simetria e reciprocidade de direitos e deveres entre marido e mulher, ao compromisso de solidariedade, ao monopólio do sexo e à forma pela qual os prazeres do casamento deveriam se desenvolver, dado que este era considerado necessário para o desenvolvimento do afeto, sendo, no entanto, repudiado seu excesso, assim como o adultério, reputado uma quebra do afeto e do comprometimento de vida una.

Tais elementos foram retirados de textos de Aristóteles, Platão, Plutarco, Sêneca e Musonius Rufo, sendo evidente que o filósofo se absteve de ingressar nos detalhes da relação conjugal tal como prescrita pela pastoral cristã, que recrudesce diversas das prescrições da moral greco-romana e se imiscui inclusive na forma como deve se desenrolar a relação sexual dentro do casamento.

No segundo texto, Foucault analisa a postura greco-romana sobre o amor homossexual a partir de diálogos filosóficos nos textos de Platão, Plutarco e Pseudo-Luciano. Partindo-se do questionamento acerca de qual amor seria o mais verdadeiro e casto, se o homossexual ou o heterossexual, chega-se à primeira conclusão que o amor seria uma manifestação única da caridade (charis) e, posteriormente, a par das críticas feitas pelos partidários do amor entre rapazes, Plutarco identifica imperfeições que transformariam o amor entre homens em uma classe menor de afeto.

Sobreleva, na discussão filosófica, a reflexão sobre o caráter impositivo da atração que um homem sente por uma mulher, dado que esta seria decorrente da premência da própria natureza, enquanto a afeição de um homem por outro seria um sentimento tardio, uma elevação das necessidades satisfeitas rumo a um plano elevado de curiosidade e saber, no exato momento em que os homens, após aprenderem tantas habilidades úteis, começam a não negligenciar mais nada em sua pesquisa.

Interessante notar como o tema é profundamente discutido desde a Antigüidade e, tendo se tornado tabu por diversos séculos, retorna à baila diante das novas configurações possíveis de arranjos de convivência, onde não há mais a exigência do modelo tradicional familiar ou, aliás, o modelo tradicional familiar é visto como empecilho à realização completa da felicidade do homem, esta pregada como finalidade última do ser humano pelas rígidas exigências do mercado de trabalho e da atual sociedade de consumo.

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