sábado, 28 de fevereiro de 2009

Livro destaca uso de água das chuvas no semi-árido nordestino

Por Editor em 28/02/2009


Livro destaca uso de água das chuvas no semi-árido nordestino: Capa do livro Potencialidades da água de chuva no semi-árido brasileiro
Créditos: Divulgação

A captação e o armazenamento das águas de chuva são questões chave nas estratégias dos agricultores familiares para conviver com o ambiente quente e seco do sertão nordestino. Na região, proliferam experiências bem sucedidas de organizações comunitárias e de políticas públicas em torno da "guarda" dessas águas para uso no abastecimento das famílias ou na produção agrícola, quando a estiagem avança sobre as residências e as propriedades.



O livro Potencialidades da água de chuva no semi-árido brasileiro reúne estudos que se propõem a dar sustentação científica e social a esta questão cada vez mais central para o desenvolvimento econômico e à qualidade de vida de uma população que, em grande parte, habita locais isolados na extensa área rural do interior do Nordeste. A publicação põe em evidência tecnologias de baixo custo, próprias para serem instaladas nas proximidades das casas, com potencial para livrar as famílias do suprimento de água por meio de carros pipa – um símbolo do atraso e da pobreza dos agricultores na região.

DIFERENÇA

Os editores do livro são especialistas da Embrapa Semi-Árido. Os autores são pesquisadores que trabalham com o tema desde a criação da instituição em 1975, além de técnicos vinculados a organizações não governamentais, como o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) e a Associação Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva (ABCMAC). Há, também, contribuições da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa).

Nos oito capítulos que compõem o livro, os autores são unânimes na defesa das técnicas que armazenam água das chuvas. A pesquisadora e uma das editoras, Luiza Teixeira de Lima Brito, explica que em todos eles há uma sólida argumentação em torno dos benefícios, dos modos de construção e de experiência de uso por agricultores e comunidades. Numa região onde a quantidade de dias sem ocorrência de chuvas chega a 300, dispor de uma cisterna ou de uma barragem subterrânea faz uma enorme diferença para quem quer viver no sertão de forma sustentável e com resultados da produção agrícola, afirma ela.

INFRA-ESTRUTURA

Uma grande vantagem das tecnologias apontadas no livro é a praticidade com que permitem aos agricultores e suas famílias o acesso a água. Para os autores, esta é um das grandes questões em torno das alternativas de abastecimento da população rural da região. A despeito do histórico dos problemas agrícolas e humanos decorrentes da seca, não existe escassez de água para as pessoas, de acordo com o que estabelece a Organização das Nações Unidas (ONU).

Esta instituição considera a existência de escassez quando há disponíveis apenas 1000 metros cúbicos de água por pessoa no ano. No Nordeste, onde há menos oferta de água é no Estado de Pernambuco, mas num volume de 1270 m3/pessoa-1.ano-1. No Piauí, a quantidade chega a 9185 m3/pessoa-1.ano-1, e no Ceará, 2279 m3/pessoa-1.ano-1.

As intervenções governamentais na região foram marcadas durante várias décadas pela construção de açudes. Cerca de 450 deles são considerados de grande porte – com capacidade superior a 1 milhão de metros cúbicos. Outros 70 mil são de pequeno porte – com volumes entre 10 mil e 200 mil m3. Além disso, existem aproximadamente 100 mil poços tubulares. Esta infra-estrutura hídrica – acrescida das bacias do São Francisco e do Parnaíba e dos rios temporários - não bastaram para democratizar o acesso das famílias a água em quantidade e com qualidade, afirma Luiza Brito.

UMA TERRA, DUAS ÁGUAS

Dos oito capítulos que formam o livro, cinco tratam de forma específica as tecnologias já disseminadas por várias áreas da região: cisternas rurais para consumo humano, cisternas para uso no abastecimento dos animais, barragem subterrânea, captação de água no local do plantio (in situ) e barreiro para irrigação de salvação. Um outro, porém, apresenta as ideias básicas do Programa Uma Terra Duas Águas (P1 2) que incorpora a experiência do Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC) e amplia a oferta dos recursos hídricos para a produção agropecuária, além de incluir o acesso dos agricultores a terra.

Os autores deste capítulo – Johann Gnadlinger (presidente da Associação Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva – ABCMAC), além de Aderaldo de Souza Silva e Luiza Brito – defendem a manutenção do P1MC como uma importante intervenção dos governos e da sociedade civil na sustentabilidade de investimentos para a convivência com o semi-árido. Contudo, a evolução recente dos movimentos sociais e das instituições dá sustentação a uma proposta mais abrangente como o P1 2.

Segundo Gnadlinger, projetos pilotos em execução em 10 estados brasileiros já avaliam a viabilidade técnica e produtiva do programa. As experiências são financiadas pela Fundação Banco do Brasil (FBB) e a Petrobras e têm o apoio da Rede de Tecnologia Social (RTS). O P1 2 é apropriado para ser implantado em cerca de 40% das terras com uso agropecuário limitado (criação de caprinos e ovinos e aproveitamento da caatinga) no semi-árido, além de 20% das que permitem a agricultura com o uso de água de chuva.

Para Gnadlinger, que é também Gestor Ambiental do Instituto Regional da Pequena Agricultura Apropriada, a questão da terra no P1 2 é determinante. No Nordeste estão 2 milhões dos estabelecimentos agrícolas familiares, que correspondem a 42% do total de unidades agrícolas do país. Cerca de 90% deles possuem menos de 100 hectares e 65% têm menos de 10 hectares.

Com base em estudos dos pesquisadores Clóvis Guimarães Filho e Paulo Roberto Coelho Lopes, da Embrapa Semi-Árido, Gnadlinger argumenta que, na área da Depressão Sertaneja (368 mil km2), para uma família viver bem precisa dispor de, pelo menos, 300 hectares para uma exploração minimamente rentável e sem danos ao meio ambiente. O Programa visa aumentar a área de agricultura, a partir de uma reforma agrária apropriada. "Sem terra suficiente, parte das famílias fica no círculo vicioso de fome, sede, degradação, abandono da terra e migração para os centros urbanos".

O livro Potencialidades da água de chuva no semi-árido brasileiro pode ser adquirido por R$ 22,00 na Embrapa Semi-Árido. Anote os contatos:

Embrapa Semi-Árido
BR 428, Km 152, Zona Rural - Caixa Postal 23
Petrolina, PE - Brasil - CEP 56302-970
Telefone: (87) 3862-1711
Fax: (87) 3862-1744
E-mail de contato

MAIS INFORMAÇÕES

Luiza Teixeira de Lima Brito
Pesquisadora da Embrapa Semi-Árido

Johann Gnadlinger
Gestor Ambiental

Instituto Regional da Pequena Agricultura Apropriada
Telefone: (74) 3611-6481

FONTE

Embrapa Semi-Árido
Marcelino Ribeiro – Jornalista

http://www.agrosoft.org.br/agropag/209492.htm

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