sábado, 28 de fevereiro de 2009

O DESMATAMENTO ILEGAL NA FLORESTA AMAZÔNICA DEVE SER VISTO COMO UM GRANDE CRIME ÀS FUTURAS GERAÇÕES!


"O aquecimento global não será resolvido em um estalo", diz pesquisador do Inpe a Marcelo Tas no Bate-papo UOL

06/06/2007

"O aquecimento global não será resolvido em um estalo", diz pesquisador do Inpe a Marcelo Tas no Bate-papo UOL
Da redação

Um dos temas mais preocupantes da atualidade, o aquecimento global, tomou conta do Bate-papo UOL desta terça-feira (22). Em uma conversa esclarecedora comandada pelo jornalista Marcelo Tas (visite blog), o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Afonso Nobre destacou as ações que podem minorar os efeitos do problema que veio à tona depois do documentário "Uma Verdade Inconveniente", que traz o ex-candidato à presidência americana, Al Gore, como "front man" (leia mais aqui).

Nobre disse que o aquecimento global não vai ser contido em um "estalo", nem ao menos através de "soluções tecnológicas". "Não podemos iludir ninguém, a temperatura vai continuar subindo, mas a inteligência humana pode ser utilizada para minorar esse problema", ressaltou.

Leia a seguir a íntegra do bate-papo que contou com a participação de 463 internautas.

(03:43:11) Carlos Nobre: Muito boa tarde, minha honra estar nesse bate-papo com vocês.
(03:51:15) Carlos Nobre: O risco é real, não é hipotético ou um pequeno risco que talvez valesse a pena correr em nome de um modelo de bem estar que nos acostumamos. O risco é real porque tudo o que já injetamos de gases que causam aquecimento nos últimos 50 anos ainda continuam na atmosfera. Esses gases são o gás carbônico, o metano e o óxido nitroso, que é um gás vindo da agropecuária e dos produtos químicos. Esses são os três gases que existem na natureza mas que estamos injetando devido às atividades humanas. E tem também o CFC, que é um gás criado pelo homem e foi muito utilizado em sprays e na serpentina de ar-condicionados, mas hoje já foi banido, mas se lançou muitos desses gases no passado e eles estão ai, ficam milhares de anos na atmosfera, e também causam o aquecimento. Esses gases mantêm a superfície aquecida. Esse é o efeito estufa natural, se temos vida aqui é porque esses gases deixam a Terra habitável, senão a temperatura seria de -18º. A questão é que estamos, desde a Revolução Industrial queimando carvão e, mais recentemente, petróleo, gás natural e florestas, emitindo o metano da pecuária, dos pântanos, dos arrozais, tudo isso fica na atmosfera por muito tempo. Existe sim o processo de fotossíntese, é verdade. Sem a fotossíntese não existiríamos, esse processo acontece dentro das folhas, com a clorofila. Esse é um processo natural e fundamental. Só que depois que queimamos carvão, petróleo e gás natural --que são produtos da fotossíntese formados por decomposição fóssil. Então quando os queimamos, jogamos tudo de volta na atmosfera e esses gases demoram anos para sair da atmosfera. Não dá mais para tirar esses gases rapidamente da atmosfera, não existem soluções tecnológicas, então temos que conviver com esses gases e eles continuarão a aquecer o planete por muitos séculos. O aquecimento global não é um problema como a cura da Aids, por exemplo, ele não será resolvido por um estalo nem por solução tecnológica. Ele precisa de muito tempo.

(03:55:18) Carlos Nobre: As alterações já estão ocorrendo, os oceanos ainda devem subir nesse século. Meio grau a mais na água do oceano já é suficiente para deixar os corais doentes, algumas espécies de sapos da América Central já desapareceram. O que se projeta é que se a temperatura aumentar de 1,2º ou 1,5º os efeitos serão enormes. Por exemplo, a produção agrícula das áreas quentes já perdem com apenas 2º, com aumento de 4º a agricultura do mundo inteiro perderia a produção. Com 2º a 2,5º a mais, 30% de toda as espécies sofrem o risco de extinção. Isso nunca aconteceu no nosso mundo. Estamos na sétima grande extinção, só com as mudanças de habitats, se colocarmos a questão ambiental, será muito maior. Ainda estamos a tempo de agir.

(03:57:02) Carlos Nobre: Recentemente houve um aumento da consciência mundial sobre a gravidade do problema, o que é fundamental. Ainda há tempo de agir para não deixar aumentar as temperaturas em mais de 2º. Para isso temos que descarbonizar o planeta, diminuindo as emissões, reduzindo globalmente o desmatamento. Só de trocar as lâmpadas incandescentes por fluorescentes, já reduziriam as emissões em 2%. Só isso, mas tem que ser em escala global.

(04:01:42) Carlos Nobre: Para um brasileiro, a nossa culpa maior é o desmatamento da Amazônia, do Cerrado, etc. O brasileiro consciente, que se sente responsável por garantir um mundo sustentável ambientalmente, ele tem que contribuir para essa diminuição através de consumo responsável. Se o produto que ele consome vem da Amazônia, ele tem que exigir certificação. Você tem que olhar a origem da madeira, da carne. O grande mercado desses produtos é o sul e o sudeste do Brasil. Quando o mercado sinalizar que não mais aturará os produtos vindos de desmatamento ilegal, os produtores vão ter que se remanejar. O consumidor de classe média brasileira não é muito diferente da classe média européia. Mas nós somos mais acostumados com uma vida menos controlada que o cidadão médio americano. Manter ambientes climaticamente controlados, como acontece nos EUA e na Europa durante todo o ano, consome muita energia. Temos que privilegiar o transporte coletivo, como é feito na Europa. No Brasil, o transporte coletivo é para pobre e nisso temos que melhorar. Outras pequenas coisas, como trocar o carro por veículos de combustível renovável e também plantar árvores que, apesar de ser um ato simbólico, ajuda.

(04:00:06) Adriana/UOL:

Carlos Nobre conversa com Marcelo Tas ao vivo no Bate-papo UOL (crédito: Manoela Pereira)

(03:36:34) Alex: Professor Carlos, boa tarde, de tanto se falar em aquecimento global, isso tá se tornando um assunto que muitos acham sem solução. O senhor percebe que está havendo por parte de alguem uma tomada de solução para esse problema?
(04:03:35) Carlos Nobre: Alex, boa tarde. O fato de que a ciência mostrou que algum aquecimento global já se tornou inevitável, não há como parar a máquina. A coisa é séria no sentido que a ação tem que ser agora. Não podemos iludir ninguém, a temperatura vai continuar subindo, mas a inteligência humana pode ser utilizada para minorar esse problema.

(03:41:58) Joao Carlos: O governo não está investindo pouco neste assunto?
(04:05:20) Carlos Nobre: João Carlos, o governo brasileiro apenas acordou para essa questão. O governo brasileiro ficou muito tempo voltado para questões econômicas e para o desenvolvimento nacional. Hoje o Brasil está plenamente consciente de que precisamos recuperar o tempo perdido em várias áreas. Estamos rapidamente tentando agir. Precisamos investir primeiro em Ciência, em tecnologia. Sem recursos adequados não vamos fazer muita coisa.

(03:47:45) Joao Carlos: Não seria importante unificar todos os centros de Meteorologia para estudar este assunto tão importante?
(04:07:06) Carlos Nobre: Unificar seria muito difícil visto que cada instituto nasceu de uma maneira. O que o Ministério da Ciência e Tecnologia está implementando é uma grande rede de pesquisa sobre essas mudanças climáticas. Vai haver um grande investimento, cerca de R$20 milhões, e isso vai ajudar no estudo dos impactos --que é muito mais você saber como um setor de energia elétrica, por exemplo, vai ser afetado pela diminuição das chuvas. Temos que trazer para a Ciência os outros setores.

(04:08:19) Carlos Nobre: Todos os países desenvolvidos gastam grande parte de seu PIB com investimentos em tecnologia. O Brasil sabe disso, mas não sabemos utilizar bem o dinheiro público.

(03:47:55) Emoo: Boa tarde prof. Carlos, eu moro em Toronto e as pessoas daqui dizem que antigamente as tempestades eram mais constantes. Gostaria de perguntar qual sera a regiao no planeta em que as mudancas climaticas serao mais nitidas
(04:10:19) Carlos Nobre: Emo, onde elas aparecem com total clareza são nas regiões mais frias, como acontece um pouco mais ao norte de Toronto, em regiões polares que se passava o ano todo coberto de gelo, com muito frio, já não há mais gelo durante todo o ano. Lá vemos essas mudanças quase a olhos vistos. No Canadá, a estação da primavera chega antes --nisso a agricultura é favorecida (mas só se for até 2º), mas também cresceu o número de pessoas com alergia a pólen.

(04:02:13) Estudante: Prof. Carlos, boa tarde, Sou estudante de Gestão Ambiental e nas aulas aprendi que a terra passa sempre por um periodo de aquecimento natural, o Sr não acha que o aquecimento Global deveria ser visto de uma maneira mais sensata, antes de sairmos por ai dizendo que por causa dele o planeta pode se extinguir?
(04:13:13) Carlos Nobre: Estudante, em primeiro lugar, ninguém está falando que o planeta Terra pode se extinguir. Um dado muito importante é que dificilmente as plantas conseguem fazer fotossíntese quando a temperatura das folhas ultrapassa os 45º -- o que é muito alto. Vamos supor que, daqui a muitos anos, a temperatura média do planeta passe dos 35º, assim, conseqüentemente, muitas regiões chegariam aos 45º e impediriam a produção, não haveria comida. Mas para isso levaria muito, muito tempo. Precisamos tomar um certo cuidado. Sim, é natural esse aquecimento do planeta que você diz. O problema é que estamos fazendo o planeta sair fora da faixa que a natureza escolheu para operar nosso planeta.

(04:08:37) Iver: O Brasil já tem medidas preventivas para o aquecimento global?
(04:20:24) Carlos Nobre: Iver, o Brasil se preocupou muito em ajudar na redução de emissões. Nos últimos dois anos, o desmatamento já diminuiu consideravelmente. A ministra Marina Silva está pessoalmente preocupada, por ser da região amazônica. Mas, o país ainda está atrasado nas adaptações aos efeitos que irão surtir. O governo acaba de divulgar um plano, mas é só um plano. Essas adaptações que devem ser pensadas são, por exemplo, com relação ao aumento no nível do mar, com pessoas que moram em áreas costeiras, porque precisamos reordenar o espaço litorâneo. Outro ponto é nossa agricultura que hoje é muito suscetível às variações climáticas, temos que desenvolver espécies resistentes. Temos que começar hoje a desenhar esse novo perfil agrícola. A cana-de-açúcar hoje é o combustível mais renovável que existe. A emissão de gás carbônico da queima da cana é na proporção de 1/8 em relação à gasolina. Mas, ainda com relação à cana-de-açúcar, há alguns lados preocupantes: as queimadas para preparar as colheitas, o que aumenta a eficiência --esse é um problema de saúde pública, tanto para os bóias-frias, quanto para a população da região onde ela acontece--, e a questão social, já que a tecnologia permite a colheita feita somente com maquinários, mas os bóias-frias continuam sendo empregados por uma questão social.

(04:21:22) Carlos Nobre: Os bóias-frias são remanescentes da escravidão e do início do período industrial, onde se ganhava por produtividade, isso no fim do século XIX.

(04:10:30) Jennifer: Existe algum projeto de Lei, que Obrigam as empresas como por exemplo Fabrica a diminuir os poluentes emitidos no Ar?
(04:23:44) Carlos Nobre: Jennifer, olha, hoje se começa cada vez mais a ter uma descrição mais genérica de poluentes. Tradicionalmente poluentes causam dano à saúde humana. Os gases não entram nessa categoria, mas em breve entrarão. A situação já melhorou muito na poluição em São Paulo, por exemplo, em relação à década de 70. A tecnologia dos automóveis e das indústrias permitem uma poluição menor. Mas ainda não há legislação com relação aos gases de efeito estufa.


(04:18:28) Pedro: Caro Carlos, muito se fala sobre o desmatamento da amazonia e seus efeitos no clima. E outros ecossistemas como o Cerrado, Caatinga, que tem sofrido taxas de desmatamentos muito maiores, nao teriam tb um papel na emissao de gases?
(04:27:03) Carlos Nobre: Pedro, sem dúvida. Em 2006 houve uma enorme redução do desmatamento da Amazônia (13 mil km2/ano), mas o desmatamento do Cerrado brasileiro aumentou muito (23 mil km2/ano). Esse desmatamento tem um efeito ecológico gigante. Mas na floresta amazônica tem muito mais carbono em sua biomassa do que no cerrado e mais ainda do que na caatinga. Nesse sentido a floresta é mais importante, mesmo que como ecossistemas os três sejam igualmente importantes.

(04:28:49) Carlos Nobre: No fim da estação chuvosa, quem quer desmatar vai e corta e deixa ali secando durante toda a estação seca (3-4 meses) e só depois bota fogo. Esse primeiro fogo queima 30-40% da biomassa. Em 10 ou 12 anos aquilo que restou ali vai decompondo naturalmente. Nesse processo de decomposição vira também gás carbônico e volta para a atmosfera, gerando o efeito estufa.

(04:22:07) Paulo Jundiaí: Aquecimento global está na moda (Leonardo di Caprio, Al Gore), eu não consigo pensar de uma maneira global...O que posso fazer em minha casa, em meu bairro e em minha cidade?
(04:32:19) Carlos Nobre: Paulo Jundiaí, acho que no futuro quando esse assunto adquirir mais seriedade, vai ser desenvolvido um aparelhinho medidor de emissão de gás na sua casa. O que não é difícil de fazer. Cada pessoa, de certo modo, pode contribuir. Por exemplo, quem viaja de avião, pode otimizar suas viagems e assim reduzir a emissão. Outra coisa, ter um carro de combustível renovável. Em países onde há muitas usinas termoelétricas, reduzir o consumo de energia é essencial. Se você puder reflorestar um pequeno terreno, você vai ajudar, porque a arvore diminui a temperatura local, diminui o risco de enchentes, melhora a qualidade do ar, e é uma ação que todos podemos tomar. É uma medida muito prática.

(04:23:57) Adriana/UOL:

Carlos Nobre ao vivo no Bate-papo UOL (Crédito: Manoela Pereira)

(04:34:11) Carlos Nobre: A reciclagem, além de gerar empregos, é fundamental porque a quantidade de energia utilizada na reciclagem é muito menor do que no processo original de produção. A sociedade do futuro vai reciclar absolutamente tudo. A casa do futuro pode usar materiais e formas que reduzam em 3/4 a necessidade de ar-condicionado. Se a pessoa quer contribuir, precisa pensar nessa questão.
(04:35:10) Carlos Nobre: O disperdício é uma característica do "homu-modernus-industrialis". A mídia e a publicidade criaram a mítica de que viver bem é consumir energia.

(04:29:42) CARLO: Hidrelétricas tem alguma parcela de culpa no aquecimento global?
(04:36:49) Carlos Nobre: Carlo, têm, mas menos do que as termoelétricas. Quando se enche o lago de uma hidrelétrica se gera o gás metano, que é muito mais poluente que o gás carbônico. Isso ainda é muito contestado, pois quando as hidrelétricas se instalaram na região da mata atlântica, toda a região já havia sido desmatada. Mas é inegável o impacto na criação de lagos na região amazônica, por exemplo.

(04:30:13) Amazonense: Professor, o aquecimento global pode afetar o regime de reprodução de peixes na Amazônia?
(04:38:14) Carlos Nobre: Amazonense, o Impa tem feito alguns estudos de laboratório que mostram que com o aumento de 2º no Rio Negro já compromete a reprodução dos peixes, por isso que eu dei aquele número de que com o aumento de 2,5º o risco de extinção é de 30% de todas as espécies vivas do mundo, com certeza esses peixes entram nessa estatística.

(04:37:30) Adriana/UOL:

Carlos Nobre e Marcelo Tas ao vivo no Bate-papo UOL (Crédito: Manoela Pereira)

(04:39:25) Carlos Nobre: O instituto tem um site que a maneira mais fácil de entrar: www.cptec.inpe.br e procurar pelo ícone de mudanças climáticas e você vai ter acesso a vários estudos sobre esse assunto.

(04:39:59) Carlos Nobre: Obrigado pela oportunidade.

(04:40:10) Adriana/UOL: O Bate-papo UOL agradece a presença de Carlos Nobre e de todos os internautas. Até o próximo!

http://www.sacodeeventos.com.br/index.php?id=435.

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