sábado, 28 de fevereiro de 2009

O DISCURSO DA SUSTENTABILIDADE E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO

GUSTAVO DA COSTA LIMA*

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

As duas últimas décadas testemunharam a emergência do discurso da
sustentabilidade como a expressão dominante no debate que envolve as questões de
meio ambiente e de desenvolvimento social em sentido amplo. Em pouco tempo,
sustentabilidade tornou-se palavra mágica, pronunciada indistintamente por diferentes
sujeitos, nos mais diversos contextos sociais e assumindo múltiplos sentidos.
Sua expansão gradual tem influenciado diversos campos do saber e de
atividades diversas, entre os quais o campo da educação. Há pouco mais de uma
década, observa-se entre os organismos internacionais,as organizações não-governamentais
e nas políticas públicas dirigidas à educação, ambiente e desenvolvimento
de alguns países, uma tendência a substituir a concepção de educação ambiental, até
então dominante, por uma nova proposta de “educação para a sustentabilidade” ou
“para um futuro sustentável”.
Essa renovação discursiva no debate internacional pode ser observada
nas conferências e documentos da UNESCO, na Agenda 21 proposta na Rio-92, nas
políticas educacionais de diversos governos da União Européia e na produção acadêmica
internacional que serve de base a esta orientação. Gradualmente, e com intensidades
variadas, o novo discurso passou a penetrar também o debate em outros países centrais
e periféricos e nas demais esferas institucionais.
No Brasil, o discurso da educação para a sustentabilidade ainda é pouco
disseminado na literatura e nas práticas que relacionam educação e meio ambiente.
Entretanto, a crescente difusão do discurso da sustentabilidade no contexto de um
mundo globalizado – marcado por relações entre as esferas locais e globais e por relações de dependência política e cultural entre países do centro e da periferia do sistema
mundial– recomenda a análise de seus significados e a avaliação de suas contribuições
para o debate brasileiro.
Quais os significados e implicações desta articulação entre a educação e
a sustentabilidade? Qual a natureza e os objetivos desta renovação discursiva? Educar
para sustentar o quê? Qual a diversidade de leituras sobre este debate e quais os
principais argumentos a favor e contra a nova proposta? Que fundamentos, valores e
interesses estão envolvidos neste processo? Qual a história da construção do discurso
da sustentabilidade e de sua inserção na educação?
Essas são algumas das questões que norteiam a reflexão deste ensaio.
Problematizando-as, procuramos compreender as relações entre a sustentabilidade e a
educação, a diversidade de sentidos envolvidos nesta construção, o jogo de forças e
interesses que nela se destacam, assim como as principais ênfases e contradições que
marcam este campo discursivo.
Para realizar o trabalho, recuperamos, em primeiro lugar, um pouco da
história do surgimento do discurso da sustentabilidade. Em seguida, desenvolvemos
uma análise das principais críticas favoráveis e desfavoráveis a este discurso. Em um
terceiro momento, exploramos a diversidade de interpretações que constituem a
sustentabilidade como um campo discursivo para, finalmente, abordarmos os significados
e implicações da inserção do discurso da sustentabilidade no campo educacional.
Por compreendermos a sustentabilidade como uma proposta em torno da
qual gravitam múltiplas e diversas forças sociais, interesses e leituras que disputam
entre si o reconhecimento e a legitimação social como “a interpretação verdadeira”
sobre o tema, optamos por tratá-la como um discurso, no sentido empregado por Michel
Foucault no contexto da arqueologia e, sobretudo, da genealogia do saber-poder.
Segundo esse autor, toda sociedade controla e seleciona o que pode ser dito numa
certa época, quem pode dizer e em que circunstâncias, como meio de filtrar ou afastar
os perigos e possíveis subversões que daí possam advir (FOUCAULT, 2001).(...)

LEIA NA ÍNTEGRA EM: http://www.scielo.br/pdf/asoc/v6n2/a07v06n2.pdf

GUSTAVO DA COSTA LIMA*- Professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal da Paraíba-UFPB e Doutorando em Ciências
Sociais no IFCH/UNICAMP, e-mail: gust3lima@bol.com.br.
2003.


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